Laécio beethoven

Ciranda na tarja preta

Laécio beethoven
CIRANDA NA TARJA PRETA

Laécio Beethoven

I
Ornato de pintura em borda de
Traço manto lutuoso sucumbir
Linguagem de censura ou pode ser
Mistério que acoberta o bom porvir.
Depois de o dicionário descrever,
Nenhuma cor viria lhe colorir,
Mantendo tal conceito. Quer dizer:
O preto traz um "quê" dentro de si.
Comum nomenclatura não formal,
Conduz à tarja preta algo imoral.
Impreterivelmente, lembra dor.
Ao perceber, por um dos mil sentidos,
O pensamento logo é conduzido
A imaginar menor, senão, doutor.
II
__ Oh! Rótulo carrasco diretor!
Fartáveis preconceitos e suplício!
Dão-lhe sem ter remorso nem pudor
(...não fosse a caridade de um mau vício...)
A um mero risco tão voraz calor.
Sem chance de defesa dá de início,
Papel protagonista "dublador"
A quem é figurante por ofício.
Pois, de "cronicidade" e de exaustão,
É fácil decorar, com precisão,
Diversos escalões de tolerância.
Seria também lilás feitor perfeito,
Ou antídoto pra mal de preconceito,
Independentemente da arrogância.
III
Neurônios problemáticos, em marcha,
Conhecem a ciranda na questão.
Enquanto o comodismo se relaxa,
Internalizam a interrogação:
Qual timbre e qual largura de uma faixa
Na caixa de um ricaço sem noção?
Teria nesta receita de bolacha
A fórmula do pobre sem razão?
Carece beber chá conquanto desce
O preço na farmácia. Se padece,
A febre da miséria contagia.
Nas dependências tóxicas brutais,
À base das tais "ínas" sufixais,
Que nem penicilina em nevralgia!
IV
Existe um santo amor de cor anil.
A paz serena, verde bandeirada.
A guerra revelou-se avermelhada,
Contrária de amarelo do Brasil.
Há céu, estrela e mar de cor sutil.
Teria, da fome, sombra amarronzada.
À droga, sua pintura desbotada!
Pra o sol, nenhuma cor melhor surgiu.
Ao chão, pra resgatar o seu respeito,
O cinza não será mais tom perfeito.
O musgo vestirá a terra-carvão.
As cores das cidades, com certeza,
Solenemente vão ganhar beleza
Se, em branco, colorar a poluição.
V
Segundo algum provérbio bem antigo,
Deus marca para não perder visão.
Não sendo decompor, definição
De o verbo peneirar é, pois, abrigo.
A tarja que se molda no perigo,
Também pode exprimir a proteção.
Os rios, da abominável erosão.
Um ninho de canário do inimigo.
Por fim o sim e o não, buscando jeito,
Encontram urupema no conceito.
O luto, por essência é descontente!
Não retratando raça, mas sim cor,
Peneiração da tarja faz tutor
Meu décimo terceiro descendente.
VI
A venda do desdém na face humana,
Cobrindo-lhe nos olhos, reduz a alma.
É causa sim, de choro, não de palma,
Quanto ao não permitir à mente insana
Notar que tem criança em rua "fulana",
Dormindo na calçada (...perco a calma!)
Com cachorros leprosos (...Oh! Que trauma!).
A imagem dessa nata tão tirana
Reflete nas feridas de tais cães.
É mácula de várias gerações,
Como se Deus tivesse tal defeito,
Deixando que fabriquem desses ossos
Escadas pra sonhos e, sem remorsos,
Anulem a conquista do direito.
VII
Direito de ir e vir ou de ficar
Vantagem de amar e ser amado
Perdoar e de ser logo desculpado
De confundir, em vez de detalhar

Usar da faculdade de pensar
Dizer seu verso branco, não rimado
Cantar, mesmo que bem desafinado
Dançar, embora não possa escutar.
Sentir o sol secando o orvalho frio!
Andar ao longo curso desse rio
Que todos chamam-lhe: verbo viver!
O que não for subir será descida.
Repito sem pudores: Vida é vida!
Algum liberto é doido de morrer?
VIII
A tarja dos escravos foi a corrente.
Foi do indigente o véu da mendicância
E do homem sem moral, sua mortal ânsia.
A flâmula do arco-íris, a da gente.
"__ A raça humana bem mais sorridente!
Os mundos sem terror a toda instância!
Os Deuses em eterna vigilância!
Os sete mares numa só corrente!"
A luz que forma as cores na memória
Acende o "sonho-facho" na história
E nada é mais do que sessar padrão.
A fala se "assenhora" da palavra,
Na trava derradeira. "Abra-cadabra"!
__"A vida não tem contra-indicação!"

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