Laécio beethoven

Sequência de sonetos 1 (poesia)

Laécio beethoven
Sequência de Sonetos 1


Templo


A minha igreja tem portas imensas
Grandes colunas de altos telhados
E seus altares são ornamentados
Para acolher as mais diversas crenças.

Ali se travam discussões intensas
E é comum ter credos confrontados
Os que lá entram são estimulados
A questionar antigas diferenças.

Nela se prega a paz de consciência
Também se exalta a boa convivência
Sem precisar de papos enfadonhos.

Sua existência é transcendental
E seu mais nobre diferencial
É ser o templo pra todos os sonhos.

A Arte

Conquanto evoque todo seu talento
Vez que o poeta não vê a saída.
Tenta exteriorizar seu pensamento
E a arte não se aflora em sua lida.

"Tarda-lhe a idéia! A inspiração lhe tarda!
E ei-lo a tremer, rasga o papel, violento,
Como o soldado que rasgou a farda
No desespero do último momento!."

Agora o impasse! Renova a energia
E voltando ao estado de estesia
Conclui, assim, o primeiro terceto.

Analisa os poemas de outras lavras
E destrinça os sentidos das palavras
Pra chegar ao final deste soneto.

A Idéia

Eu me encontro em estado de poeta
Assim penso e me ocorre a ousadia
De tentar uma estranha parceria,
Donde vem essa idéia que decreta?

"Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas
Que, em desintegrações maravilhosas
Delibera, e depois, quer e executa."

É idéia... desenvolve, não quieta
Incorpora um quarteto da seleta
Desse denso universo augustiano.

Ficam claras as águas nebulosas
E por força de atrações misteriosas
Sou parceiro do vate paraibano.

A Inspiração

Deste Mundo perdi a sintonia
Vindo um surto de grande inspiração
Que aflorou o poder da criação
E ao verso deu toda autonomia.

Entrei no mágico mundo da poesia,
Naquele estado de transmutação
E só sob o comando da emoção,
Do imponderável mais a fantasia

Minha mente foi pega de surpresa
O meu verso fluiu com inteireza
E poetei segundo por segundo.

De repente, senti grave problema:
A inspiração findou, com o poema,
E voltei bruscamente a este Mundo.

A Luz

Penso, logo... questiono por que penso
E como o cérebro faz esses arranjos
Que o nosso vate Augusto dos Anjos
Poetizou de modo tão intenso:

"A vida vem do éter que se condensa
Mas o que mais no Cosmos me entusiasma
É a esfera microscópica do plasma
Fazer a luz do cérebro que pensa."

Por que será que há condensações
Que geram gênios de grandes invenções
E outras tantas, a mediocridade?.

Saber da luz - que é, por que e quando -
Sempre pensando, pensando e pensando...
Assim caminha a Humanidade.

A Visão


"Quando o homem, resgatado da cegueira,
Vê Deus num simples grão de argila errante,
Nasce, pra ele, neste mesmo instante
A mineralogia derradeira!".

Conclui que tudo de um só Deus emana,
Seja na Terra ou na tropopausa,
Pois não existe efeito sem ter causa,
É axioma da ciência humana.

O homem, neste instante, assimila
Que Deus é origem do grão de argila
Causa primária de tudo que existe.

Vê em Deus a suprema inteligência
- A chamada divina providência -
E então, só na Verdade assim persiste.

O Amor


Em soneto, Camões foi convincente:
"Amor é um fogo que arde sem se ver
É um não querer mais que bem querer
É ferida que dói, e não se sente".

"Falas de amor, e eu ouço tudo e calo
O amor na Humanidade é uma mentira.
É. E é por isto que na minha lira
De amores fúteis poucas vezes falo".

Se só de amor sagrado foi um crente
Me alio neste tema recorrente
Ao poetar do vate português

Que teve essa inspiração de estalo
E usou soneto para bem focá-lo
Lá nos idos do século dezesseis.

O Soneto

Fitei a fim o branco do papel
Para ali escrever mais um soneto
Mas eu já chego ao fim deste quarteto
Sem que o lápis roçasse em meu anel.

Botei rima e com ela sou fiel
Pois não acho este estilo obsoleto.
Finalizo esta estrofe e me arremeto
Indo em frente com ânsia de tropel.

Imagino um soneto assim faceto,
Concebido no subconsciente,
Ao passar para o último terceto.

Quando aponto o meu lápis, finalmente,
Já não é mais um simples esqueleto:
O soneto está pronto em minha mente!

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