Os quero-queros nos dizem
Gustavo teixeiraOs quero-queros nos dizem: - toma cuidado seu moço
São foices e idéias tolas nos passos de um invasor
São comandados qual tropa tocada num corredor
Quem ronda veio de longe de uma vila da cidade
Traz pela mão um menino que não sabe da maldade
Traz na outra uma angústia e a sua raiva por instinto
Se juntam frente a porteira mostram seus olhos famintos
Clamam por terra, senhores sem terem respeito a ela
Rompem as divisas do campo pra transportar as favelas
Querem a terra de muitos que sobrevivem também
Da força das próprias mãos sem pedir nada a ninguém
Trazem armas, não palavras, nem sementes na bagagem
Acampam beirando a estrada pois sempre estão de viagem
E um quero-quero de longe alguma coisa nos diz
Que ainda vou pagar o preço de uma conta que não fiz
Alguém nos ronda a casa sem nos pedir permissão
Acenam bandeiras rubras e nos falam em invasão
São qual rio em chuva grande que desviou do seu leito
E querem levar água abaixo o que é nosso por direito
Quem planta prova seu suor e quanto é justa a colheita
Quando eu cheguei nesta terra as leis já estavam feitas
Porque faz tempo que se fala e pouca coisa se faz
E os quero-queros nos dizem que o campo clama por paz!